
Dr. Oswaldo Cruz. Apenas 44 anos de vida e uma vasta lista de contribuições.

Dr. Oswaldo Cruz. Apenas 44 anos de vida e uma vasta lista de contribuições.
No carnaval de 1900 o RJ fervia. Literalmente, aliás. O mormaço era quase incandescente e os blocos saiam às ruas, competindo com carroças e seus cavalos, atravancando as vielas do centro do Rio de Janeiro. Forçando a passagem pelas laterais, estafetas (mensageiros), caixeiros viajantes, senhoras a procura de aviamentos e todo o tipo de passante, penosamente tentavam chegar ao destino, não indiferentes à marcha errante de divertidos foliões. Muitos ali sorriam, mas o mar não estava pra peixe. Boa parte padecia da mesma sorte: os que não tinham perdido parentes e amigos para a febre amarela, os tinha hospitalizados, em agonia. Com a doença á espreita, provavelmente alguns foliões nem estariam mais ali num futuro muito próximo.
Nessa época, o Rio de Janeiro estava mais para um vilarejo do que para uma capital. Era rústico que só e já tinha mais de 500 mil habitantes. E, como todo o país no inicio do século 20, tinha sérios problemas sanitários e de saúde pública. Neste cenário, o calor, a chuva, as condições de higiene e a indiferença da população revezavam com um mosquitinho, principal ator no trágico ato da febre amarela – o aedes aegypti.
Entra em cena um médico conhecido por ser duro, de pouca paciência, workaholic e nada político, um tal de Oswaldo Cruz. Escolhido pelo Presidente Rodrigues Alves para ser o bam bam bam da Saúde no Brasil e alheio à chorumela da população, impôs vacinação goela abaixo e investimentos intensivos em campanhas de aniquilamento dos focos do mosquito. Funcionou tão bem que mesmo muito depois do Doutor Oswaldo, nos idos dos anos 50, o aedes aegypti era considerado praticamente extinto por aqui. Mas como prevenção nunca foi nosso forte, de lá pra cá o mosquito foi entrando em nossas vidas, devagar e sempre e, como se não bastasse, trazendo com ele outras doenças.
Precisamos urgentemente de um Oswaldo Cruz, um médico que, tendo vivido apenas 44 anos, deixou uma lista de feitos à Saúde Pública até hoje jamais superada. Pra ficar só na agenda das realizações mais importantes:
Criou o Instituto Soroterápico Nacional (futura Fundação Oswaldo Cruz, no RJ), liderou campanhas de vacinação da febre amarela e da varíola (diminuindo drasticamente a presença destas doenças), ajudou a fundar a Academia Brasileira de Ciências, foi membro da Academia Brasileira de Letras e premiado no Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim. Ao fim da vida, foi Prefeito de Petrópolis (RJ).

Marcelo Castro – como Ministro da Saúde, apenas mais um político.
Sonhar com o século passado parece coisa absurda, mas como ter recursos e mobilizações como a que tínhamos quando a pasta da Saúde está na mão de políticos? Em plena epidemia do Zika Vírus, o Ministro Marcelo Castro pede exoneração do cargo pra cuidar da eleição do líder do seu partido (PMDB) na Câmara do Deputados e a Presidente do país se atrapalha e vira alvo de piada na web durante uma entrevista coletiva onde tenta explicar como o Zika se propaga.
Há poucos dias, lia em um artigo do Jornalista Antônio Carlos Prado que a Sífilis, uma DST tida como dos tempos da vovó, voltou com toda a força. No Brasil, os índices de pacientes com HIV sobem (entre 2005 e 2013, o aumento foi de 13% no número de infectados, segundo o Programa das Nações Unidas para HIV e Aids), enquanto no restante do mundo se dá o contrário (queda de 27,5% no mesmo período).
Enquanto articulações e crises políticas forem muito mais importantes do que uma epidemia, ou uma grande mobilização de recursos para orientar a população de forma séria, não teremos o nosso esperado Dr. Oswaldo Cruz.