Valor Econômico – Stella Fontes – 10/11/2015 (matéria na integra)
Um dos maiores laboratórios nacionais, o Aché iniciou em 2015 um novo ciclo de crescimento. A meta é internacionalizar o negócio – avançando prioritariamente nos mercados da América Latina -, dobrar de tamanho a cada cinco anos e lançar ao menos um medicamento desenvolvido a partir de inovação radical que se consagre líder em seu segmento, como o anti-inflamatório Acheflan.
O caminho que o laboratório deve seguir está previsto no planejamento estratégico 2030, desenhado com a participação do novo presidente, Paulo Nigro, que antes de chegar à indústria farmacêutica estava à frente da Tetra Pak nas Américas. O executivo assumiu em janeiro, efetivamente, a presidência do Aché, que por quase dois anos, após a saída do ex-presidente José Ricardo Mendes da Silva no início de 2013, foi comandado por um comitê de gestão.
Nesse período, multinacionais teriam assediado os acionistas do laboratório – as famílias Depieri, Dellape Baptista e Siaulys -, interessados em comprar a empresa que no ano passado fechou com receita líquida de R$ 2,1 bilhões e lucro de R$ 471 milhões. As tratativas, porém, não prosperaram e diante da renovação da estratégia de longo prazo, os acionistas não estariam sequer olhando oportunidades nesse sentido.
De acordo com Nigro, o planejamento estratégico é sustentado por cinco pilares, entre os quais crescimento em todas as áreas de negócio, com foco prioritário em inovação. No ano passado, os investimentos em inovação giraram em torno de R$ 140 milhões. Em 2015, já são mais de R$ 200 milhões, dos quais R$ 20 milhões na chamada inovação radical.
O laboratório, conforme Nigro, quer chegar a um novo medicamento líder de mercado e referência em inovação, como o Acheflan, que exigiu dez anos de pesquisas e foi o primeiro fitoterápico 100% desenvolvido no Brasil. Com vendas superiores a R$ 20 milhões por ano, responde por 28% das prescrições médicas em seu segmento.
Para impulsionar o desenvolvimento de drogas inovadoras, o Aché inaugura amanhã em sua sede, em Guarulhos (SP), o Laboratório de Design e Síntese Molecular, dentro do novo Centro de Inovação Radical. “Queremos agora uma inovação radical sintética”, disse Nigro, acrescentando que na lista de boas apostas aparecem uma molécula para tratamento do vitiligo e outra para ansiedade.
Ao todo, o portfólio atual contempla 16 projetos de inovação radical, divididos em sintéticos, fitoterápicos (um deles para diarreia, cujo potencial de vendas também é elevado) e em dermocosmésticos. Essas moléculas, segundo Nigro, podem credenciar o Aché a entrar em mercados estrangeiros, especialmente latino-americanos, que aos poucos passariam a receber outros produtos.
“Vamos com portfólio novo, diferenciado, e uma vez estabelecido o relacionamento comercial, gradativamente agregamos outros produtos já existentes”, explicou Nigro. Hoje, as exportações representam apenas 1% dos negócios e não há planos, inicialmente, de aquisição de ativos para produção em solo internacional. “Não acredito em internacionalização via aquisição”, afirmou.
Outra via de acesso ao mercado internacional é ao estabelecimento de parcerias com farmacêuticas estrangeiras para desenvolver plataformas tecnológicas. A primeira parceria do Aché nessa linha foi fechada com a biofarmacêutica sueca Ferring, que concentra seus esforços de pesquisa e fabricação na área de peptídeos e proteínas.
Dono de medicamentos com vendas acima de R$ 100 milhões, o Aché utiliza sobretudo recursos próprios para financiar a expansão. Em 2015, disse Nigro, a receita líquida deve mostrar expansão de 10% e boa parte do crescimento vem de produtos novos, colocados no mercado nos últimos dois ou três anos. No total, o Aché conta com 176 produtos em desenvolvimento em seu pipeline.
Além de medicamentos sob prescrição, genéricos e isentos de prescrição (MIP), o Aché atua no segmento de dermocosmésticos e se prepara para entrar no mercado farmacêutico institucional, que abrange hospitais e governo. Hoje, praticamente 100% das vendas do laboratório se dão no varejo.