(Traduzido e adaptado do artigo do jornalista James Gallagher, editor de Saúde da BBC website, Chicago/IL)
Um estudo apresentado no ASCO (Congresso da Amercian Society of Clinical Oncology), maior congresso sobre câncer no mundo, mostra que o uso de stents antes da cirurgia diminui o risco cirúrgico e, consequentemente, a necessidade de uso de bolsa de colostomia. Por ser um dispositivo de coleta de fezes, a simples possibilidade de uso da bolsa, assusta os pacientes, encontrando enorme resistência.
São diagnosticados anualmente cerca de 1,4 milhões de casos de câncer de intestino no mundo. Na Inglaterra, a grande maioria dos cânceres de intestino passam despercebidos, até que se tornem casos de emergência cirúrgica. O risco destas cirurgias não planejadas é muito maior do que uma cirurgia de rotina, pois a saúde geral do paciente está pior e o inchaço provocado pelo bloqueio inviabiliza a cirurgia laparoscópica. E nem sempre um especialista está presente para uma intervenção mais invasiva. Nesses casos, a taxa de mortalidade sobre de 2% para 12%.
Intestino Distendido
Feita a remoção do tumor, os cirurgiões são menos propensos a dilatar novamente o intestino. Uma parte do cólon se encontra bastante distendida, enquanto outra completamente prejudicada pelo tumor. Caso não seja possível reverter seu funcionamento, a necessidade de uso de bolsa de colostomia é enorme. Um estudo com 250 pacientes realizado pelo Cancer Research UK tratou a metade do grupo com cirurgia convencional e a outra metade por meio de uma nova abordagem de desobstrução do intestino: o cirurgião, com a ajuda do endoscópio, localiza a obstrução, onde é imediatamente colocado um stent. Na colocação, o stent tem apenas 3mm de diâmetro, porém em 48 horas, o dispositivo se expande até atingir 2,5cm de diâmetro, abrindo a passagem do cólon. Só então o tumor é removido, uma vez que o paciente está livre da obstrução.
Entre os dois tipos de procedimento, não foram observadas diferenças na taxa de sobrevivência. Porém foram gritantes as diferenças entre a decisão pelo uso da bolsa de colostomia e pelo não uso, foi gritante. Dos pacientes onde a abordagem foi a cirurgia de emergência, 69% precisaram da adoção de bolsa de colostomia, enquanto que os pacientes onde foi adotado o procedimento com stent, o uso da bolsa caiu para 45% dos casos.
“Enorme melhoria”
O Professor James Hill conduziu o estudo em Hospitais da Universidade de Manchester e diz: “Culturalmente os médicos temem que o bloqueio do intestino possa aumentar a chance do câncer se espalhar, porém nossos resultados iniciais não apontam pra isso. Também estamos satisfeitos por vermos que esta pode ser uma forma de reduzirmos o risco daqueles pacientes que precisam de bolsa de colostomia após a cirurgia. Estamos falando de mais qualidade de vida no dia a dia dos pacientes. Estes foram apenas os primeiros resultados, mas o trabalho se se prolongará pelos próximos 3 anos para saber se a abordagem afeta a sobrevivência e os cuidados necessários para paciente terminais.”
Debora Alsina, Diretora Executiva do Bowel Cancer UK, considera os resultados são promissores. “É especialmente reconfortante observar que o uso de um stent não aumenta as chances de que o câncer se espalhe.”, diz ela. “No caso dos pacientes que precisam de uma bolsa, é possível viver bem com uma. Mas aqui temos uma maioria de pacientes que passam a viver sem a necessidade de um estoma permanente. A bolsa de colostomia é, na maioria das vezes, um dispositivo que assusta as pessoas. Assim, da mesma forma como festejamos os resultados do estudo, no longo prazo, vamos precisar pesquisar muito mais.”
Martin Ledwick, do Cancer Research UK, declara: “Este tratamento não serve para todos e sim para aqueles cujo impacto poderá ser muito maior em suas vidas pós-cirurgia. A não necessidade de uma bolsa de colostomia tem um impacto significativo na qualidade de vida desses pacientes.”
Ponto de Vista
Por Doutor Anderson Freitas da Silva, Médico, Endoscopista e Diretor Clínico do Hospital Vivalle Rede D’or (São José dos Campos/SP).
“A importância desse estudo está no papel de ponte exercido pelo stent em um caso onde o paciente obstruído e com um tumor entra no pronto socorro para atendimento de urgência. Normalmente, um paciente nessa situação entra e é imediatamente encaminhado à cirurgia. O Cirurgião opera e instala a bolsa de colostomia, para dali algumas semanas, reoperar o paciente, tirar a bolsa e religar o intestino. O estudo mostra aponta para a possibilidade de, numa primeira abordagem, ao invés de operar o paciente, colocar um stent, eliminando a obstrução. Depois de algumas semanas, o cirurgião opera o paciente, retira o tumor e reconstitui o trânsito intestinal, diminuindo assim a necessidade de uma colostomia. Ainda que, conforme o artigo, as pesquisas devam continuar, sem dúvida a técnica permite um ganho enorme em termos de risco e qualidade de vida, na abordagem desse tipo de paciente.”