Mesmo as feras, às vezes, avançam o sinal. Quem deu uma checada na Live do Capital Inicial (dia 03/05/2020), deve ter se assustado com a bizarra tentativa do vocalista Dinho Ouro Preto (em recuperação por contágio do Corona Vírus) de alcançar os tons mais altos de Bohemian Rhapsody. O mesmo Dinho que, em novembro de 2012, com a voz tinindo, saúde perfeita, num show na Fundição Progresso (RJ) tomou cuidado de entoar o hino de Freddie Mercury uma oitava abaixo e com a colaboração do público. É o respeito aos próprios limites.
Sobe um frio na espinha ver as veias do pescoço avermelhadas, em franco contorcionismo vocal de quem, safo pelos anos na coisa, sabe que não vai chegar. É um avião forçando o motor até o stol (perda de sustentação por elevar demais o nariz – pensando em humildade, juro que a analogia saiu sem querer :).
O beco sem saída do Dinho ilustra bem a diferença entre risco calculado e se expor sem necessidade, optando por dar um passo atrás. E as redes sociais não perdoam, fica para a posteridade. Em tempos de live onde o autêntico vale mais do que o produzido (ainda que a “live” tenha sido bem mais produzida e menos modesta que outros estrelados), passou batido. Entra para o folclore e não chega a abalar o currículo de quem tem nas costas o privilégio de ter feito parte da gênese do rock brasileiro. E repito, o cara deixou para ousar justamente quando ainda se recupera de uma ressaca “covídica”. Pô, Dinho. Respeito ao Dinho, grande vocalista, mas dessa vez, forçar a barra deu ruim.
Veja o vídeo:
