O artigo a seguir é mais um caso do que um artigo. Mas achei tão incrivelmente pertinente à realidade do dia a dia de todo o profissional que vive de realizar seu próprio negócio, que tomei a liberdade de transcrevê-lo na íntegra, claro que dando os merecidos créditos ao autor. 

Execução, Execução, Execução – by Daniel Schnaider, SCAI Group Consultoria. 

daniel schnaiderEra o ano de 1998, minha querida vovó estaria fazendo o seu aniversário de 85 anos na terra santa, junto com familiares. A festa acabou quando minha bába (avó em Yidish) desmaiou ao descer as escadas. Sua perna teria quebrado em cinco partes diferentes. Cheguei em choque ao hospital, o que era para ser um dia cheio de felicidade virou um pesadelo. Ao conversar com a equipe médica fui informado que a Sra. Rachel como muitas vezes era chamada, não fez seguro de saúde internacional.

O custo para realizar a cirurgia em Israel de forma privada seria de 250.000 dólares. A alternativa seria conseguir botar ela em um voo ao Brasil, mas tinha um agravante. O médico me informou que caso não fosse possível operar ela nas próximas 48 horas, ela não voltaria a caminhar mais. Não tinha nenhum outro familiar que poderia levar minha vó de forma segura para o Brasil. Era minha vez de fazer algo por esta grande mulher que foi sempre o simbolo de amor, carinho, determinação e um humor que botaria Jerry Sienfeld para fazer sua lição de casa.

Ao começar a organizar na minha cabeça o tamanho do desafio que tinha pela frente, o médico pediu minha atenção para me ensinar como dar injeções periódicas de remédios na barriga da minha avó. Porém a injeção era o menor dos meus problemas.

Eu tinha meu passaporte vencido, não sabia onde ele estava, estava começando o fim de semana, onde conseguiria renovar o passaporte, era militar, e não tinha autorização para sair do estado, tinha acabado de começar um namoro. Como você explica esta estória para uma mulher sem acabar na UTI?

Depois de dar um beijo e abraço na minha avó e afirmar que tudo se resolverá rápido, um amigo da família me explicou “Daniel, meu filho, você tem que ser realista, você nunca conseguirá levar sua avó a tempo para a mesa de cirurgia”. Depois de agradecer as sábias palavras fui ao que interessa “Missão salvar minha avó”.

Cheguei em casa, e depois de revirar o apartamento, encontrei o passaporte. Fui direto para o aeroporto onde teria uma unidade emergencial do ministro do interior que emite os passaportes. Infelizmente já estava fechado e não poderiam me ajudar. Mas depois de explicar com detalhes a urgência da situação, consegui receber um documento que me autorizaria viajar por cinco dias. Isso era exatamente o que precisava. Próxima etapa, convencer o exército. Depois de conseguir o telefone da representante de recursos humanos de minha unidade, liguei para o que aparentava ser sua casa. Como disse anteriormente já era fim de semana.

Daniel: “Alô, gostaria de falar com a sargenta X” – Resposta: “Quem é?”

Daniel: “Meu nome é Daniel, faço parte da mesma unidade dela, e tenho uma situação emergencial que requer a intervenção dela”.

Resposta: “Quem você acha que você é para ligar para nossa casa no fim de semana. Eu sou a mãe dela, esta é uma casa de família. Até para o exército tem limites, você não pode ficar ligando para casa das pessoas no fim de semana. Minha filha trabalha muito duro durante a semana, e ela também merece e precisa de tempo para descansar e estar com família. Não vou admitir este tipo de atitude com a sua, e de sua unidade que acha que tudo é sempre urgente e importante.”

Daniel: “Sra. entendo e concordo com sua posição, peço desculpas por estar incomodando sua família no fim de semana, que de fato é sagrado; mas você permitira apenas que sua filha falace comigo para julgar se ela entende o caso com urgente ou não”.

Resolvido este problema, agora era esperar a autorização do exercito. Para não perder tempo, já me direcionei para o hospital para pegar minha avó. Através de minha irmã, conseguimos localizar um voo para o Brasil através de Frankfurt. Seria uma viagem para a Alemanha de 5 horas, 5 horas para a conexão em Frankfurt, e mais 12 horas de viagem a São Paulo.

Ao chegar do hospital ao Aeroporto, fomos (eu, avó e família) na loja comprar a passagem. Pela situação da Sra. Rachel não nós foi autorizado comprar a passagem. Caso não conseguisse entrar naquele voo o projeto “salvar minha amada bába” fracassaria.

Ligamos para o médico, já era noite, pedimos pelo “amor de deus” para que ele escreva uma autorização para a viagem da minha avó. É claro, ele teria que encontrar um fax para enviar o pedido para a empresa área.

Chegado a autorização, me avisa a representante de recursos humanos que o coronel gostaria de conversar comigo pessoalmente antes da minha viagem. Respondi que se esta é a condição do coronel, que pretendo viajar sem autorização militar e que entendo que serei preso em minha volta, porém peço a ele que apenas me prenda na minha volta e não na minha saída.

Desliguei o celular analógico da Motorola MicroTac Series, e fui fazer o checkin, sem saber se iria conseguir passar pelos militares no embarque. Levando minha avó na cadeira de rodas, me chamaram os militares. “Você é Daniel Schnaider”, “Sim, sou eu”, “Aqui está sua autorização, você poderá embarcar e tem 48 horas para estar de volta”, ou seja, claramente seria preso em minha volta.

Dentro do avião, minha avó não conseguia sentar na classe econômica, pois sua perna precisava ficar horizontal ao chão. Por sorte e gentileza do comissário de bordo, nos permitiram passar para o Business, onde ela poderia ter a perna esticada.

Ao decolar, falei a aeromoça se alguns deles teria treinamento de primeiro socorros. Ao ser questionado pela razão de minha pergunta, expliquei que teria que dar uma injeção na barriga de minha avó e esta seria a primeira vez que o estava fazendo.

Veio toda equipe olhar como estudantes curiosos com se da uma injeção na barriga de uma idosa. Tirando o grito de dor de minha avó, tudo parece ter passado conforme os planos.

Hoje, quase vinte anos depois lembro desta estória cada vez que tenho que falar sobre “execução empresarial”. Consegui aprender desta experiência que existem alguns pré-requisitos para que se possa fazer uma boa execução:

  1. Temos que ter claro qual é objetivo
  2. Desenhar um plano (nem que seja na sua cabeça) e ter de forma clara qual são os pontos críticos que não podem falhar (Milestones e critical path)
  3. Deve-se sentir um senso interno de missão, realização e urgência
  4. Foco, Foco, Foco
  5. Pessoas que não conseguem visualizar o “projeto” vão tentar te derrubar, as vezes sem querer, ou mesmo querendo o seu bem, cada um terá suas próprias razões. Não caia, e se cair levante, siga em frente e não olhe para traz.
  6. Fracasso não pode ser uma opção
  7. Sorte como azar fazem parte do ecossistema, siga adiante
  8. É um jogo de equipe, você não pode vencer sozinho

Chegamos no Brasil 22 horas depois da decolagem, 46 horas depois do acidente, ainda houve tempo para fazer a cirurgia, que só pôde ocorrer porque meu primo médico entrou na sala de cirurgia como assistente. No final, não fui preso mas tive que escutar piada dos superiores: “você quebrou as pernas da sua avó para poder sair de férias de uma semana no exterior.” A namorada acreditou depois que voltei e contei a estória na sala de jantar em detalhes para toda sua família. Minha amada vó voltou a caminhar e assim continuou até seu último dia de vida 10 anos depois.

Daniel Schnaider

* em memória a minha avó, Rachel Schnaider

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